Na última aula, como eu disse no post anterior, os coordenadores nos passaram a tarefa de assistir ao filme Xingu com um olhar etnográfico sobre ele, capturando cenas em que se pode perceber o "encontro com o outro" (como ficou nomeada a atividade), ou seja, o contato entre duas diferentes culturas.
Aqui apresento o resultado dessa atividade, que realizei em conjunto com a minha colega de PIBID Letícia Monteiro. Foi difícil? Não necessariamente, apenas um pouco demorado. No entanto, possibilitou-me uma imersão no filme muito maior do que o normal.
Contexto: O filme se passa em meados do século XX, iniciando-se na década de 40, com a Expedição Roncador-Xingu, que integrava o plano de interiorização do Brasil do governo de Getúlio Vargas, chamado de Marcha para o Oeste.
Sinopse: Os irmãos Villas-Bôas são três jovens bem instruídos, com bons empregos e com uma família abastada. No entanto, eles buscam algo além do que esse tipo de vida pode dar, buscam a verdadeira liberdade e, por isso, ingressam na Marcha Para o Oeste, um plano de interiorização do Brasil realizado pelo governo de Getúlio Vargas. Ao se depararem com um grupo indígena e se integrarem na sua aldeia, eles percebem a necessidade de protegê-los do processo civilizatório esmagador que acontecia no Brasil, destinando suas vidas para essa causa.
Filme: Xingu Ano: 2012 Diretor: Cao Hamburguer |
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Marcação
Temporal e Descrição da Cena |
Parte
Verbal |
Parte
Imagética |
Parte
Sonora |
05m20s:
os irmãos Villas Boas vão se apresentar para a “Marcha Para o Oeste”.
Percebendo que todos os outros que também estavam se apresentando possuíam
semelhantes características sociais (eram analfabetos e trabalhadores
braçais), eles se colocaram nessa posição, assim, tendo o primeiro contato
com o “outro”: não-branco, pobre, sem instrução e trabalhador subalterno. |
Militar: instrução? Cláudio: não, senhor. Militar: última profissão? Cláudio: trabalhador braçal. |
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09m10s:
o grupo de vanguarda da Expedição Roncador Xingu, à noite, percebe um som
próximo. Um de seus integrantes, amigo dos irmãos Villas Boas, pensa ser uma
onça. Outro integrante, com mais experiência pelo visto, informa que são
índios produzindo esse som. |
Expedicionário
1: é onça. Expedicionário
2: não é onça, é índio. |
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Sons
feitos pelos índios, talvez para amedrontar um possível inimigo: “uh, uh, uh” |
09m40s:
os índios lançam um objeto (talvez um coco ou uma pedra) contra o grupo. Eles
se assustam, apagam a fogueira e, em reação, armas de fogo são engatilhadas.
No entanto, Cláudio pede para que abaixem as armas (provavelmente por não
perceber os índios como inimigos). |
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10m05s:
com o dia claro, Cláudio encontra flechas utilizadas pelos índios e uma
borduna trazida pelo seu irmão. Ele as observa fascinado. |
Cláudio:
olha só essa borduna... |
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11m30s:
os
índios, após produzirem uma cortina de fumaça em volta do acampamento provisório
do grupo, avança em direção a ele, mas são afastados por causa dos tiros
dados em direção ao céu por parte dos expedicionários. Enquanto os índios
usam sons produzidos pelas suas bocas para amedrontar os não-índios, estes,
por sua vez, utilizam-se de suas armas para ter o mesmo efeito. |
Cláudio:
atira para cima, só para cima. |
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Sons
produzidos pelos índios cada vez mais próximos, constantes e altos. Barulho
de tiro. |
12m30s:
enquanto os expedicionários marcam o seu avanço sobre as terras ditas desocupadas,
os índios, que as ocupam, observam-nos. No fundo, há uma reflexão do
personagem Cláudio (que também se põe como narrador) sobre isso. |
Cláudio
(enquanto narrador que reflete sobre o contexto da história): o que o governo
chama de terra desocupado, na verdade tem dono. |
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A
trilha sonora da cena dá uma sensação de tensão maior à medida que os
expedicionários saem de cena dando lugar para os índios. |
13m00s:
os expedicionários estão navegando pelo Rio Xingu em canoas recém construídas
por eles. Nesse percurso, Cláudio percebe uma armadilha de pesca feita pelos
índios. |
Cláudio:
Orlando, armadilha de pesca. |
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14m10s:
após escutarem os mesmos sons de antes provocados pelos índios, o grupo
começa a remar mais rápido, até que chegam em uma parte do rio na qual
avistam diversos índios na margem, com arco e flecha nas mãos. Novamente,
Cláudio pede para que as armas não sejam usadas, e decidem parar as canoas na
margem oposto aos índios. |
Cláudio:
esconde a arma, não atira. Orlando:
Cláudio, são muitos. Leonardo:
vai flechar, caralho. Cláudio:
tem uma hora que a gente vai ter que falar com eles, não dá para fugir o
tempo todo. |
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15m45s:
estabelece-se o primeiro contato entre os dois grupos: os índios chamam os
expedicionários para o lado deles da margem do rio. Leonardo, Orlando e mais
outros expedicionários vão. |
Um
índio faz um gesto com o braço e mão que indica um chamado. |
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17m20s:
os índios e os expedicionários ficam a poucos metros de distância,
desconfiados (principalmente os índios). Após Cláudio entregar a única arma
que levava consigo, uma faca na perna, ao aparente líder dos índios, este
analisa o objeto estranho, da mesma forma que Cláudio observou as flechas e a
borduna. |
Há
diálogos verbais entre os índios, mas, devido à diferença dos idiomas, usa-se
mais o corpo para uma tentativa de comunicação: Cláudio move-se devagar e
claramente a fim de não causar dúvida nos índios a respeito de suas
intenções. |
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19m20s:
os dois expedicionários se apresentam e o chefe indígena também. Há um rápido
susto por parte dos índios quando Orlando abraça o chefe indígena, mas tudo
acaba bem. |
Mescla-se
o verbal com o não-verbal na tentativa de uma melhor comunicação: Orlando diz
seu nome com bastante firmeza e apontando para si, da mesma forma faz com
Cláudio. O chefe indígena faz o mesmo. |
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19m45s:
os expedicionários entregam aos índios alguns objetos que trazem consigo.
Orlando apresenta ao líder indígena a rapadura, que não aprecia após provar. |
Orlando,
utilizando-se da comunicação não-verbal, come a rapadura para que o chefe
indígena entenda para que serve e faça o mesmo. |
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22m10s:
os expedicionários são convidados pelos índios a irem à aldeia deles. Lá,
todos da aldeia se juntam ao seu redor, curiosos sobre seus pelos a mais,
cabelos diferentes, objetos que trazem consigo, roupas que vestem... Não
sentem apenas curiosidade, mas também medo e receio. |
Neste
momento, a comunicação entre esses dois povos diferentes é estabelecida
somente por meios não-verbais. |
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A
trilha sonora vai ficando animada, passando uma sensação de empolgação. |
23m45s:
com os visitantes já estabelecidos na aldeia, inicia-se uma troca cultural.
Os expedicionários escutam os indígenas mais velhos falando em uma reunião;
os indígenas veem Orlando tentar falar sobre o avião. |
Orlando:
avião Índios:
tuiuiu |
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24m50s:
Cláudio tentando aprender algumas palavras na língua dos índios. |
Utiliza-se
gestos para definir bem do que se está falando. |
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25m20s: Os expedicionários unem-se aos índios e constroem o Campo
de Pouso Jacaré. |
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No
fundo, toca uma música alegre aparentemente indígena. |
29m15s: Um ano depois do primeiro contato com os irmãos Villas
Boas, os índios veem de perto um avião. Primeiro, espantam-se, depois há
curiosidade e, ao entrar e decolar, há uma grande felicidade por estarem
voando. |
Muita
comunicação entre os índios. |
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Uma trilha sonora alegre toca. Também há os sons produzidos pelo
avião sobrevoando e pousando na aldeia. |
31m55s:
uma epidemia de gripe trazida pelos expedicionários atinge a aldeia, matando
metade dela. Há um envolvimento entre a medicina da cidade e a indígena. |
Leonardo:
têm a menor ideia do que é que é isso, nunca viram gripe. Cláudio:
nem iam ver se não fosse a gente. |
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33min8s: o curandeiro da tribo tenta usar sua sabedoria para curar
um dos doentes. |
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Música
melancólica toca ao fundo. |
36m00s:
médicos chegam na aldeia e inicia-se um processo de vacinação. |
Médico:
vai ser só uma picada, uma picada de abelha. |
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36min44s: Leonardo Villas Boas apresenta os médicos ao cacique. |
Leonardo: Cacique! Esse aqui, Noel.
Essa aqui, Marina. |
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37m35s:
um índio traduz para o seu chefe o que Cláudio está dizendo sobre
vacinação. |
Cláudio:
a gente veio aqui para trazer remédio. |
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39m20s:
encontro entre Cláudio e uma família de indígenas que parecem estar mais
habituados aos homens brancos do que os demais, pois vestem roupas e falam
português. O pai da família relata que seu povo trabalha para os seringueiros
de forma escravizada e são mortos por eles. Cláudio dá uma arma para ele
defender sua família. |
Indígena:
seringueiro não deu comida para os caiabis. Trabalha, trabalho para os
seringueiros, não dá comida. Seringueiros matou meus filhos. Matou oito meu
filho. |
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41m25s:
Cláudio traz a família de caiabis para o posto que está próximo à aldeia de
outro povo indígena. Há uma confusão porque o povo indígena da aldeia não
quere aceitar os caiabis. |
Cláudio:
vocês não podem brigar entre si. O inimigo é o branco. |
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Trilha
sonora de tensão. |
43min34s: Cláudio e outros índios visitam outra tribo e veem o
massacre provocado pelos seringueiros. |
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Som de ação toca ao fundo. |
01h09m50s:
Cláudio e Orlando pintam-se e dançam de acordo com a cultura desse povo
indígena, em comemoração à criação do Parque Indígena do Xingu. |
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Canto
de comemoração dos indígenas. |
01h33min07s: Depois de tantas
mortes e destruição que os homens brancos causaram, Orlando Villas Boas e
Claúdio Villas Boas veem um índio de outra tribo. |
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Um som de esperança toca ao fundo. |
01h34m30s:
final do filme, com imagens reais da construção da Transamazônica, com a
legenda falando sobre um encontro entre os brancos e o povo Krenakarore, que
resultou na morte de mais de 500 indígenas desse povo. |
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